domingo, 28 de março de 2010

A Sociedade do Século XIX

Entre o inicio e a metade do seculo XIX, nossa sociedade ainda era caracterizada de um lado pela elite dominante: latifundiarios, escravocratas e grandes comerciantes...Do outro, pela massa de pobres camponeses e escravos...quase não havia classe média...

A partir da metade do seculo XIX inicia-se lentamente o processo de industrialização...Em 1850 havia já cerca de 50 indústrias, entre fábricas de tecidos, alimentação, metalurgia e produtos químicos...
Esta vagarosa industrialização estendeu-se por todo o século XIX e só se começou a acelerar já nas primeiras décadas do nosso século.
houve também o fim do tráfico de escravos em 1850, que liberou capitais para ser investidos ou em cafeicultura ou em pequenas empresas, geralmente fabricas....A abolição da escravatura em 1888, junto com a acumulação gerada pela cafeicultura e a chegada dos imigrantes iriam possibilitar a lenta e gradual modernização da sociedade brasileira, que transformaria a sociedade rural e escravocrata em uma sociedade urbana industrial e o aparecimento da classe média brasileira…

- A burguesia do século XIX pode dividir-se em três grandes grupos:
Alta burguesia: grandes capitalistas(ex:dirigentes de bancos)Média e a pequena burguesia: profissões liberais (ex: jornalistas).

- Quatro razões para os operários do início do século XIX estarem descontentes:
Os operários tinham razões para estarem descontentes no sentido que tinham péssimas condições de trabalho, trabalhavam muitas horas por dia, não tinham descanso semanal e tinham salários muito baixos.

- Três formas de luta que os operários usaram para mudar as suas condições de vida e de trabalho:
Greves, sindicatos e manifestações.

O que Aconteceu no século XIX !

1801 ->Thomas Jefferson é eleito presidente, nos EUA (política)
1802 ->Inglaterra declara guerra contra a França de Napoleão (guerra)
1803 ->Jefferson compra da França o território da Louisiana, duplicando o tamanho dos EUA (política)
1804 ->Haiti torna-se o segundo país independente da América (política)
1805 ->Batalha de Trafalgar, com vitória da esquadra inglesa (guerra)
1806 ->França declara o Bloqueio Continental contra a Inglaterra, mas Portugal não adere (política)
1807 ->Começam os movimentos de independência nas colônias espanholas sul-americanas (política)
1808 ->Corte portuguesa chega ao Brasil fugindo de Napoleão; abertura dos portos brasileiros (Brasil)
1809 ->No exílio em Londres, Hipólito da Costa publica o "Correio Brasiliense", primeiro jornal brasileiro (Brasil)
1810 ->Goya começa a pintar Os Desastres da Guerra, retratando a ocupação napoleônica na Espanha (artes plásticas)
1811 ->Paraguai e Venezuela tornam-se independentes (política)
1812 ->EUA declaram guerra à Inglaterra (guerra)
1813 ->Napoleão abdica do poder (política)
1814 ->Stephenson inventa a locomotiva a vapor (tecnologia)
1815 ->Napoleão retorna, mas sofre derrota definitiva em Waterloo (guerra) Brasil torna-se Reino Unido a Portugal e Algarves (Brasil)
1816 ->Argentina declara independência (política)
1817 ->Estoura a Revolução Pernambucana (Brasil)
1818 -> Mary Shelley publica Frankenstein (literatura)
1820 ->Primeira iluminação urbana, em Londres (tecnologia)
1821 ->México torna-se independente (política)Hegel publica Fundamentos da Filosofia do Direito (filosofia)
1822 ->Independência do Brasil (Brasil)
1823 ->EUA declaram a Doutrina Monroe (política)
1824 ->Peru independente (política)Beethoven compõe a Nona Sinfonia (cultura)Promulgada a 1a. Constituição brasileira (Brasil)
1825 ->Guerra entre Brasil e Argentina pela província Cisplatina (Uruguai) (guerra)
1830 ->Revolução liberal na França (política)
1831 ->D. Pedro 1° abdica do trono (Brasil).
1835 ->A Guerra dos Farrapos irrompe no Rio Grande do Sul, contra o governo federal (Brasil)Revolta dos malês na Bahia (Brasil)
1840 ->Começam as Guerras do Ópio na China (guerra)
1843 ->D. Pedro 2° assume o poder moderador (Brasil)
1844->Início da guerra entre México e EUA (guerra)
1846 ->Anestesia é usada pela primeira vez em hospital (tecnologia)
1848 ->Revoluções se alastram na Europa (conflito)Marx e Engels publicam O Manifesto Comunista (política)
1850 ->Lei Eusébio de Queiroz extingue o tráfico de escravos (Brasil)
1857 ->José de Alencar publica O Guarani (Brasil)
1858 ->Charles Darwin publica A Origem das Espécies (ciência)
1859 ->Primeiro poço de petróleo é perfurado, nos EUA (tecnologia)
1861 ->Começa a Guerra da Secessão nos EUA (guerra)
1862 ->Abraham Lincoln liberta os escravos (política)
1863 ->Paraguai declara guerra ao Brasil (guerra)
1864 ->Lincoln é assassinado (política)
1867 ->Início da era Meiji no Japão (política)
1870 ->Fim da Guerra do Paraguai (guerra)Carlos Gomes compõe O Guarani (Brasil)
1872 ->Primeiro recenseamento no Brasil (Brasil)
1876 ->Alexander Graham Bell inventa o telefone (tecnologia)
1877 ->Thomas Edison inventa o microfone e o fonógrafo (tecnologia)
1880 ->Rodin esculpe O Pensador
1884 ->Ceará (março) e Amazonas (julho) extinguem a escravidão (Brasil)
1885 ->Gottlieb Daimler produzem o primeiro carro movido a gasolina (tecnologia)
1886 ->Pemberton, farmacêutico norte-americano, inventa a coca-cola (tecnologia)
1888 ->Lei Áurea abole a escravidão, no dia 13 de maio (Brasil)
1889 ->Proclamação da República, em 15 de novembro (Brasil)
1891 ->Promulgada a Constituição dos Estados Unidos do Brasil (Brasil)
1893 ->Röentgen descobre o raio-X (tecnologia)Irmãos Lumière constroem o primeiro aparelho cinematográfico(tecnologia)
1895 ->Criação do Prêmio Nobel da Paz (política)
1896 ->Primeiros Jogos Olímpicos modernos, em Atenas Marconi inventa o telégrafo sem fio (tecnologia)
1897 ->Destruição de Canudos (Brasil)
1898 ->Guerra entre EUA e Espanha (guerra)
1899 ->Machado de Assis publica sua obra-prima, Dom Casmurro (Brasil)
1900 ->População mundial: 1.550.000

sábado, 27 de março de 2010

A situação das mulheres no século XIX

Depoimentos e Reportagens de Época



Esposa: John! Onde está o resto de nosso salário? Como eu vou pagar o aluguel e comprar comida para as crianças?Marido: Cale a boca! O que eu faço com meu dinheiro não é problema seu.

Charge publicada no jornal "The Vote", da Womens Freedom League, Fevereiro de 1911


"Em 1857 a lei do divórcio foi aprovada e, como é bem conhecido, definiu legalmente diferentes parâmetros morais para homens e mulheres. De acordo com essa lei, um homem poderia obter a dissolução de seu casamento se ele pudesse provar um ato de infidelidade de sua esposa; porém uma mulher não poderia desfazer seu casamento a não ser que pudesse provar que seu marido fosse culpado não apenas de infidelidade, mas também de crueldade".

(Millicent Garrett Fawcett, em seu livro "O voto das mulheres", publicado em 1911)


"Era um período estranho, insatisfatório, cheio de aspirações ingratas. Eu a muito sonhava em ser útil para o mundo, mas como éramos garotas com pouco dinheiro e nascidas em uma posição social específica, não se pensava como necessário que fizemos alguma coisa diferente de nos entretermos até que o momento e a oportunidade de casamento surgisse. melhor qualquer casamento do que nenhum, uma velha e tola tia costumava dizer.


A mulher das classes superiores tinham que entender cedo que a única porta aberta para uma vida que fosse, ao mesmo tempo, fácil e respeitável era aquela do casamento. Logo, ela dependia de sua boa aparência, nos conformes do gosto masculino daqueles dias, de seu charme e das artes de sua penteadeira".

(Charlotte Despard, memórias não publicadas, registro de 1850)


O filme "A Época da Inocência", do diretor Martin Scorsese, baseado em obra da escritora Edith Wharton, nos mostra o cotidiano das mulheres norte-americanas no século XIX. Nele podemos ver que as mulheres tinham que se preparar para um bom casamento e para o exercício da maternidade, como no caso de May (Wynona Ryder). Por outro lado, mulheres de comportamento considerado liberal, como Madame Olenska
(Michelle Pfeiffer) eram desconsideradas socialmente.

"Permanecer solteira era considerado uma desgraça e aos trinta anos uma mulher que não fosse casada era chamada de velha solteirona. Depois que seus pais morriam, o que elas podiam fazer, para onde poderiam ir? Se tivessem um irmão, poderiam viver em sua casa, como hóspedes permanentes e indesejados. Algumas tinham que se manter e, então, as dificuldades apareciam. A única ocupação paga aberta a essas senhoras era a de governantas, em condições desprezadas e com salários miseráveis. Nenhuma das profissões eram abertas as mulheres; não havia mulheres nos gabinetes governamentais; nem mesmo trabalho de secretaria era feito por elas. Até mesmo a enfermagem era desorganizada e desrespeitada até que Florence Nightingale a tornasse uma profissão ao fundar a Nightingale School of Nursing (Escola Nightingale de Enfermagem) em 1860".(Louisa Garrett Anderson, depoimento escrito de 1860)

"...os pais acreditavam que uma educação séria para suas filhas era algo supérfluo: modos, música e um pouco de francês seria o suficiente para elas. Aprender aritmética não ajudará minha filha a encontrar um marido, esse era um pensamento comum. Uma governanta em casa, por um breve período, era o destino habitual das meninas. Seus irmãos deviam ir para escolas públicas e universidades, mas a casa era considerada o lugar certo para suas irmãs. Alguns pais mandavam suas filhas para escolas, mas boas escolas para garotas não existiam. Os professores não tinham boa formação e não eram bem educados. Nenhum exame público (para escolas) aceitava candidatas mulheres".

(Louisa Garrett Anderson, depoimento escrito de 1839)



A Educação das mulheres se restringia a atividades que fossem úteis no ambiente doméstico, desprovidas de valor no mercado de trabalho da época, como costurar, aprender música ou desenvolver habilidades artísticas.

"Nós eramos ensinadas a ser jovens senhoras católicas na mesma linha da educação dada a nossas avós. Não havia lições orais, não existiam demonstrações, análises ou resolução de problemas. Nós nos sentávamos e ficávamos silenciosas em nossas fileiras de carteiras, aprendíamos dos livros e nossas tarefas eram corrigidas por uma freira, que era a professora naquele momento, a partir das respostas na parte final de um livro similar ao nosso... Nós tínhamos longos períodos de instrução religiosa... Sexta feira a tarde era devotada exclusivamente a comportamento. Os Modos fazem uma dama nos era dito, não o dinheiro ou o ensino, não a beleza. Então praticávamos como abrir uma porta, entrar e sair de um cômodo; a trazer uma carta, uma mensagem, uma bandeja ou um presente; a pedir permissão às mães de nossas amigas para que elas pudessem participar de uma festa; a receber visitas na ausência de nossos pais, e assim por diante!"

(Teresa Billington, em autobiografia não publicada, 1884)

"A presença de jovens mulheres no local de operações é ultrajante para nossos instintos naturais e calculadamente vai destruir nosso respeito e admiração pelo sexo oposto".(Documento emitido pelos médicos do Hospital Middlesex, em 1863, a respeito da admissão de médicas)

"Um argumento comum contra a prática da medicina pelas mulheres é que não há demanda para isso; Que as mulheres, como regra, têm pouca confiança em pessoas de seu próprio sexo e que preferem ser atendidas por homens... Isso é provavelmente um fato, até recentemente não tem existido demanda por médicas, pois não ocorre para a maioria das pessoas querer algo que não existe; mas que muitas mulheres desejam ser atendidas por pessoas de seu próprio sexo, eu tenho certeza, e sei de mais de um caso em que senhoras passaram por dificuldades, sem atendimento apropriado, por acharem repugnante a idéia de serem atendidas por homens.Eu tenho, repetidas vezes, encontrado até mesmo médicos, não favoráveis ao presente movimento, concordar que consideram que os homens ficam deslocados ao tratar de mulheres; e um eminente médico americano uma vez me disse que ele nunca entrava no quarto de uma senhora para atendê-la em particular sem se desculpar pela "invasão" (de privacidade).Na Inglaterra, no momento presente, há somente uma mulher legalmente qualificada para exercer a medicina, e eu entendo que o tempo dela é muito mais que totalmente ocupado, e seus ganhos muito maiores, do que é o caso de muitos médicos que começaram a atuar a pouco tempo".

(Shophia Jex-Blake, no livro "Medicina como uma profissão para mulheres", em 1869)



Dentista: Segure-se eu vou chamar mais ajuda.

Charge que procura ridicularizar a atuação profissional das mulheres no século XX, na Inglaterra. Publicada pelo Punch Magazine em 1907.


"A idéia de mulheres exercendo a medicina na Grã-Bretanha era angustiante para a rainha Vitória. Então, em 1881, o médico particular da rainha anunciou que o apoio real a um congresso internacional de medicina a ser realizado em Londres seria retirado se médicas fossem admitidas, então as mulheres foram impedidas de participar".

(Louise Garrett Anderson, depoimento escrito, 1881)


"Eu tenho escutado freqüentemente comentários sarcásticos quanto às mulheres que trabalham em fábricas do tipo oh, ela é apenas uma operária; o que dá ao mundo a impressão que nós não temos o direito de sonhar com uma outra realidade a não ser a nossa. Eu lamento que ainda não estejamos atentas aos fatos e que percebamos que contribuímos muito para aumentar a riqueza da nação e, que em função disso, temos direito a respeito e não insultos. Pois em muitas casas de Lancashire há heroínas cujos nomes nunca serão conhecidos; ainda assim, é consolador saber que nós, como classe, contribuímos para o mundo".

(Selina Cooper, em artigo intitulado "The Lancashire Factory Girl", 1898)


Obs.: Os depoimentos acima foram traduzidos do site educacional Spartacus, especificamente no link http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/women.htm





Fotos de pessoas mortas

No século XIX, era comum que as pessoas ao morrer fossem fotografados. Esta atividade se chama Post mortem Photos. Existem pessoas que leiloam fotos de pessoas mortas no e-bay .Para parecer que as pessoas estão vivas, são armados cenários e armações de madeira para serem colocadas por baixo das roupas dos falecidos dando um aspecto natural e vivaz.






Pai com criança Dormindo (ambos mortos)



Criança “dormindo”



Menino “dormindo” note o blush rosa que colocaram sobre a foto para dar vida ao morto.





Dentro do caixão




A moça do meio esta morta






Você consegue dizer quem está morto no momento desta foto? Não é o velho. É a menina no meio.


















Crianças com tom rosado na bochecha era comum. também se usava segurar ramos de flores






Criancinhas mais jovens apareciam no colo de adultos vivos ou mortos ou ainda em fotos de estúdio. Como esta. Parece até coisa da Anne Guedes.






















Era bastante comum fotos de bebes no caixão































Nesta foto, todos que aparecem estavam mortos









terça-feira, 23 de março de 2010

Sociedade no século XIX (Perguntas e Respostas)



Como sabes, no século XIX a Europa e o mundo sofreram grandes transformações a vários níveis. Por exemplo, a sociedade mudou radicalmente, com a burguesia a ganhar importância social e com o desenvolvimento de um novo grupo social, o operariado.

Perguntas e Respostas

a) A burguesia do século XIX pode dividir-se em três grandes grupos. Identifica-os e dá um exemplo de uma profissão/ocupação de cada um deles.

b) Refere quatro razões para os operários do início do século XIX estarem descontentes.

c) Indica três formas de luta que os operários usaram para mudar as suas condições de vida e de trabalho.

Respostas
a)Alta burguesia: grandes capitalistas(ex:dirigentes de bancos)Média e a pequena burguesia: profissões liberais (ex: jornalistas).

b) os operários tinham razões para estarem descontentes no sentido que tinham péssimas condições de trabalho, trabalhavam muitas horas por dia, não tinham descanso semanal e tinham salários muito baixos.

c) Três formas de luta podem ser:-greves-sindicatos-manifestações






Sociedade e doenças no século XIX – Da febre amarela á Gripe H1N1.


Foto 1- Charge “A cólera na família brasileira” – Jornal A semana Ilustrada.
Foto 2 – Bandeira do Império do Brasil.
Foto - 3 - A carta da morte no tarô.
A humanidade é fisicamente doente há muitos séculos, para ser mais sincero caríssimos e saudáveis amigos, milênios.

Desde que o planeta fora concebido como tal conhecemos, existem vírus, protozoários, fungos e bactérias e suas manifestações físicas como tosses, dores de garganta, febres e convulsões fazem parte do cotidiano de milhões de pessoas de diferentes culturas e classes ao longo das estradas anuais.

Esses seres são mais velhos que o ser humano e necessitam de animais e vegetais para poder servir de hospedeiros para se reproduzir.

Ceifaram com a lâmina afiada da morte ocidental, enegrecida, com face de caveira fétida, toda a espécie de civilizações: ricas e pobres, negras e brancas, rurais e urbanas, modernas ou arcaicas tendo o sangue correndo pelo solo com gritos de dor e clemência dos sobreviventes.

Índios escravizados foram exterminados não apenas fisicamente pelo colonizador manipulador, mas em grande quantidade por um “predador” que eles cá trouxeram exemplificado na gripe comum, a pouco versada influenza sazonal, pois seus organismos não possuíam anticorpos contra esses invasores invisíveis.

Seus corpos eram imuno-deprimidos e por isso adoeciam e morriam com extrema rapidez, causando falta de mão de obra na “ação” colonizadora.

Extermínio próximo em forma comparativa é a epidemia de AIDS que assola o continente sub saariano. Os africanos de hoje são os grupos indígenas de outrora, frágeis e manipulados.
Grande parte do povoamento do litoral do Brasil fora feito por conta do degredo português no que eles chamavam de: limpar a metrópole, levando a sujeira social das ruas para o inferno verde de tucanos.

A rainha Dona Maria I de Portugal, mãe de D. João VI por causa de ignorância (fanatismo) religioso acabara sendo a culpada pela morte do filho mais velho, D. José príncipe do Brasil e da beira, herdeiro presuntivo ao trono português causado por varíola por se recusar a vaciná-lo. Acreditava que só Deus tinha o poder de curar ou matar alguém.

O Império Português, o mais católico da Europa via na ciência a heresia e com isso muitos estudos da área de saúde foram proibidos e combatidos com penas que variavam desde o açoite em praça pública a morte por enforcamento.

Grande incentivador das pesquisas médicas, o Marques de Pombal fora preso e seus direitos políticos cassados. D. Maria e seu marido D. Pedro III formavam a mancha evolutiva de Portugal.
Doenças e pestes eram vistas como castigo divino e forma de resignação a Deus. Ciganos, Judeus, prostitutas, hereges, sodomitas e toda espécie de minorias foram os grandes responsáveis pelos ares impuros da metrópole e de seus domínios ultramarinos. Causavam a desgraça pública e moral da velha mãe Europa.

A grande causa das moléstias do passado sem dúvida está relacionada à falta de higiene com o próprio corpo.

Durante muito tempo era costume na Europa a idéia de que ao lavar o corpo, o homem perdia suas defesas de organismo. A sujeira era uma barreira que impediria as doenças e protegeria a saúde física.

Habitantes portugueses degredados no Brasil nos séculos XVI e XVII assim como índios de diversas etnias adquiriam o hábito de lavar o corpo em rios, córregos e no mar. Só veríamos essas cenas novamente dois séculos mais tarde.

No Brasil Colônia e Império por influência da metrópole era comum na hora do banhar (lavar o corpo inteiro com esfregão), a família usar a mesma água do tonel de madeira (banheira), de forma decrescente, do parente mais velho da casa (patriarca) ao mais novo (filhos ou netos).
Nisso, a sujeira coletiva acabava contaminando a criança (frágil) por microorganismos, aumentando a taxa de mortalidade da família.

Muitas crianças morriam recém nascidas por causa do que era conhecido e temido na época como mal dos sete dias.

Era a inflamação do umbigo causado por bactérias, por falta de higienização e limpeza. Pode parecer brincadeira do ponto de vista atual, mas foi registrado em diários de viajantes casos de parteiras que demoravam até oito horas para cortar o cordão umbilical da criança.
Milhares de anjinhos subiam aos céus chamados pelo arcanjo Miguel por causa desta complicação.

Pode parecer absurdo, mas, uma pessoa no século XIX, branca, fidalga, aristocrata poderia tomar banho uma vez a cada 12, 15 dias, dependendo da região do Brasil.

Em locais mais frios como nas províncias do Rio Grande e São Paulo de Piratininga podia o banho completo ocorrer a cada dois meses ou mais.

Durante os treze anos em que esteve no Brasil, só existe um registro histórico de banho de D. João VI. Em uma tarde de caça, na Real Fazenda de Santa Cruz, no subúrbio da corte, o Rei foi picado por um carrapato e por conta da falta de limpeza e lesleixo, o ferimento agravou e causou febre.

O mordomo mor, Matias Lobato recomendou banhos de mar por conta do sal que servia como cicatrizante natural. O local foi na enseada de Botafogo. Escravos de ganho, homens, mulheres e crianças viram a cena e o “milagre” foi documentado oralmente.

Ao ver contos infantis readaptados dos irmãos Grimm, com Reis elegantes e princesas limpas vemos que é tudo mesmo um mundo de fantasia. Não lembra em nada uma época sem esgoto, luz elétrica ou mesmo água potável.

D. João mesmo soberano de Portugal, Brasil e Algarves fora Angola, Madeira, Açores e Macau costumava não trocar de roupa até que a mesma apodrecesse ou rasgasse por inteira no próprio corpo.

A sociedade disfarçava o (C.C) cheiro de corpo que muitos já consideravam odor natural, com óleos aromáticos e perfumes. As mulheres usavam paninhos umedecidos com ervas para o rosto e os homens lavavam apenas o rosto para receber visitas ou arruar pela cidade.

Banho completo apenas em ocasiões muito especiais: casamentos, formaturas e batizados. Inimaginável essas situações de imundície lendo romances de Machado de Assis ou vendo novelas globais das 18 horas.

Pouca gente sabe, mas, em 1858, ocorreu um surto de piolhos e de sarna na Corte carioca causados principalmente por falta de limpeza da própria população.

Hábito luso, mau hábito que ia da família real ao camponês. Chuva era desespero. Se hoje é ecologicamente associando a vida, no passado era de doença e morte.

Basta lembrar que a Tuberculose era a doença mortal do século XIX, romantizada por poetas, temida pela população em geral.

Apenas na década de 1880, a boa sociedade, que queria ser esclarecida, refinada, colocaria em prática os conselhos dos médicos europeus, que formaram a elite médica exportada do Império Brasileiro (filhos de grandes comerciantes, senhores de engenho de açúcar e café, filhos de senadores e ministros do governo).

São criadas as primeiras casas de banhos termais, formadas por duchas que alternavam entre o quente e o frio e que além de serem indicados pra fins terapêuticos, tratamento de doenças mentais era a forma mais moderna de higiene de corpo.

Era com isso o reflexo do tema moderno “corpo são, mente sã”. E representava a modernidade do filho da elite que pagava caro e fazia o “social” entre as famílias abastadas que viajavam com freqüência a Europa.

Como vocês podem perceber tudo, inclusive saúde no Brasil era uma questão da moda importada, européia. As cascatas de água vão ser os novos sons da ópera romântica dos ricos imperiais.

O velho continente percebeu que a saúde dos seus estava em perigo e as Américas copiaram suas novas leis de limpeza e sanitarismo.

Nos centros urbanos do Império do Brasil, as cidades eram mal planejadas, mal arborizadas e com o aumento de população local, graças à abertura dos portos, incentivo a imigração e descontrole de natalidade, bairros dos centros foram se tornando cheios, abarrotados de todo tipo de pessoas criando comunidades individuais, micro cidades dentro de cidades.

Os cortiços eram formados por milhares de pessoas que dividiam um espaço pequeno, úmido, apertado e fechado que acabaram se tornando focos letais de doenças como a cólera morbun, a tuberculose, a febre amarela, a gripe sazonal e a febre tifóide.

Aluízio de Azevedo em seu romance “o cortiço” expõe com maestria a realidade brasileira que a elite Imperial queria esconder ou eliminar. O realismo acaba rompendo com o romantismo utópico da vida do brasileiro.

Quando ocorria algum surto na cidade como os de febre amarela e cólera, já mencionados, a Família Imperial se refugiava em Petrópolis e só quando os sintomas das moléstias cessavam, voltavam para a corte, geralmente após o verão.

Durante o carnaval carioca de 1858, milhares de pessoas contraíram febre amarela superlotando as misericórdias e muitos habitantes morriam em quatro ou cinco dias.
Viáticos e padres não davam conta da extrema unção, sepultando o mais rápido possível para evitar a contaminação.

Roupas de cama eram incineradas, caixões eram empilhados nas praças públicas, sinos pós-morten não paravam de tocar em todas as horas, crianças e mulheres não saiam de dentro das casas, repartições públicas entraram em recesso.

Pedro II visitava hospitais de irmandades e dos Lázaros e anotava receituários de remédios e curativos, prometia estudos. Nuvens de fogo e bandeiras pretas eram hasteadas nas portas e janelas das casas sinalizando que aquele espaço era perigoso e poderia ser foco de contaminação.
A aglomeração junto ao fator climático tropical e as casas coladas, empilhadas umas nas outras, dando uma aparência cubista além do hábito privado das famílias brasileiras em jogar as fezes e urinas no chão das calçadas das ruas onde ratos e baratas circulavam como se fossem cidadãos de respeito, a falta de limpeza e troca das águas das bicas e chafarizes que tinham a água poluída pelos próprios moradores.

Brancos e escravos de ganho que utilizavam a própria água suja, exposta dias ao sol, para lavar roupa de casa ou a serviço de dinheiro e para a preparação dos alimentos para o almoço e jantar. Explica sem dúvida o porquê a população adoecia gravemente.
Com toda a certeza, nesse relato extraído dos diários particulares de Dona Eufrásia Teixeira Leite se vê que grande parte das doenças endêmicas do Brasil se relacionavam com limpeza e poderiam ter sido evitados.

O uso da água não filtrada e fervida causou a morte de muitos do Império por febre tifóide. inclusive da Princesa Leopoldina de Bragança e Coburgo, irmã da Princesa Isabel, e filha de D Pedro II só para citar uma personagem que causou comoção pública no período oitocentista.

Por isso mesmo, hoje, agradeçam o fato de tomar água mineral independente da marca, pois no passado água também podia ser sentença de morte eminente.Nas primeiras décadas do século XX, ainda por conta de uma sociedade com mentalidade patriarcal e preconceituosa, homens se recusavam a abrir as portas de suas casas para receber os agentes sanitários da República.
Alegavam invasão de privacidade alem de afronta moral já que suas mulheres teriam de levantar as “saias” para estranhos médicos e agentes de saúde.

Essa foi à situação vivida pelo médico sanitarista Osvaldo Cruz no período da revolta da vacina quando a medicina estava lenta em experimentos laboratoriais.

Mesmo após uma campanha de saneamento e drenagem de esgoto ainda dos tempos do Império, a República Velha continuava a se afastar dos problemas de limpeza, criando novos bairros e marginalizando, abandonando as zonas centrais.

Os tigres (negros que coletavam os dejetos das casas,) foram substituídos pelo servidor público remunerado que derramava o lixo nos rios e canais da cidade em vez de aterrar-los assim como no passado recente.

Na prática da saúde dos habitantes, não houve mudanças significativas até aquele momento.
A partir das décadas de 1940, e 1950, o governo brasileiro investe financeiramente em estudos e cria o Ministério da Saúde (junto do da educação – vela salientar) capacitando profissionais para o combate de doenças tropicais.

Há algumas décadas, o medo e a desinformação criavam pânico na população. Não se conhecia a profilaxia, a prevenção do mal. A dificuldade de comunicação e a distância entre as províncias alastravam as doenças.

Misticismo junto com curandeirismo prometia o milagre da salvação do corpo e da alma do doente, do moribundo, velas e novenas iluminando procissões percorriam as ruas. Todos poderiam se contaminar e não saber a causa.

Informação é invenção do mundo moderno. No século XIX, a comunicação era de boca em boca.

Hoje, acontece um fenômeno interessante e totalmente novo, aos olhos da história da humanidade. Acompanhamos em tempo real a criação, a proliferação e a multiplicação dos vírus e bactérias.
As mídias modernas, representadas na internet e na televisão, são também meios que informam a população sobre o surgimento de uma nova doença. Criam a informação e o caos ao mesmo tempo por muitas vezes deturpar informações ao povo.

Porém as mesmas se multiplicam com mais facilidade e em menor tempo do que no passado pela facilidade de locomoção moderna via trafego aéreo ou terrestre.

Não que as doenças não vinham em meios de transporte, aliás, no passado quase em sua totalidade. Navios eram bombas de enfermos ao mar, onde a taxa de mortalidade era em média, mais da metade dos tripulantes.

Mas o tempo dos extremos, do imediatismo em que vivemos encurtou as distâncias. Podemos estar no mesmo dia em vários países e continentes e contaminarmos caso estejamos doentes varias pessoas, fugindo ao nosso controle.

No século XIX algumas doenças eram excludentes, eram chamadas pejorativamente como “mal de povo”, atualmente as vejo democráticas, contaminam ricos e pobres, velhos e adultos, heterossexuais e gays.

No passado, as santas casas de misericórdia, criadas em Portugal cuidavam de enfermos das províncias do Brasil, dando assistência médica e curativo aos enfermos.

Hoje precisamos marcar consulta com meses de antecedência na rede pública estadual e contar com a sorte de ser chamado.

Uma coisa é certa. Voltamos ao passado sendo cólera, febre amarela ou gripe H1NI. Somos humanos e temos medo, terror daquilo que não temos controle absoluto.

Não ter todas as respostas para as indagações fisiológicas e corpóreas é a grande doença na mente do homem do século XXI.

Referências Bibliográficas:
ALENCASTRO, Luís Felipe de. O trato dos vigentes: Formação do Brasil no Atlântico Sul, séculos XV e XVI. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
JARDIM, David, Gomes. A higiene dos escravos. Rio de Janeiro, Tese Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. 1847.
STEIN, Stanley J. Vassouras: Um município brasileiro do Café, 1850-1890. Rio de Janeiro; Nova Fronteira, 1990.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Cafés e Botequins Lisboetas do Séc. XIX: Classes Sociais

Os cafés eram espaços de sociabilidade construtores de hierarquias e visões do mundo. Ponto de encontro de amigos. Local da “cavaqueira”. Os cafés e botequins eram frequentados por letrados, sabichões, janotas, toureiros, valentões, pategos, entre outros. São um contributo importante para compreender a vida mundana da sociedade oitocentista Lisboeta.
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Desigualdades Sociais na sociedade Oitocentista Lisboeta